Túmulos remanescentes do Cemitério de Animais no Parque Ibirapuera
Uma cruz e uma pirâmide cor de tijolo podem ser facilmente avistadas perto da pista de corrida do Parque Ibirapuera, em São Paulo. Estas estruturas guardam mais de 100 anos de história de um antigo cemitério de animais que operava no parque. Segundo Vanice Teixeira Orlandi, presidente da União Internacional Protetora dos Animais (UIPA), uma parte da área do parque pertenceu à associação entre 1920 e 1974. No local onde atualmente é o parque, funcionava um cemitério de animais, um hospital veterinário, abrigo para cachorros e a sede administrativa.
A história por trás das lápides do cemitério de animais
A pequena pirâmide, por exemplo, é a lápide do túmulo do cão Pinguim. Nela, estão as datas de nascimento e de morte do animal de estimação, além de uma frase para homenageá-lo e os nomes dos donos: “Ao nosso fiel amigo Pinguim. Nascimento: 5-3-1937. Morte 5-6-1946. Eternas saudades. Dos seus donos Nina e Nice”. Já a cruz pertence ao túmulo do cão Fiel, um Pastor Alemão que também foi enterrado pelos donos no antigo cemitério. Essas lápides ainda estão lá porque foram deixadas para trás quando pediram para a UIPA se mudar com a expansão do Parque Ibirapuera.
O encontrou as duas lápides perto do portão 5 do Parque Ibirapuera, entre a pista de cooper e o restaurante Selvagem. A maior parte dos frequentadores do parque disse desconhecer a existência do cemitério de animais antes da inserção de uma placa no começo do mês de outubro deste ano pela administração do parque, informando sobre a história do local. Um aposentado que frequenta o parque há mais de 40 anos disse que, mesmo com muitos anos de visita, só descobriu a história das lápides recentemente, movido pela curiosidade.
Há de se ressaltar que a UIPA foi a associação civil mais antiga do Brasil, fundada em 1895 com o objetivo de denunciar maus-tratos de animais e protegê-los. Em São Paulo, a associação se instalou na antiga rua França Pinto, onde atualmente fica a Avenida IV Centenário. As centenas de túmulos, exibidos em imagens antigas, eram enormes, pareciam túmulos de pessoas. A cruz que está hoje lá aparece nesses registros, e havia todo um ritual de despedida, de colocar rosas e fazer homenagens nas lápides.
Origem do cemitério de animais e sua relação com o Parque Ibirapuera
Douglas Nascimento, coordenador do Instituto São Paulo Antiga, confirmou que tudo indica que o antigo cemitério de animais no Parque Ibirapuera foi o primeiro cemitério do tipo na capital paulista. Na época em que foi estabelecido, o bairro não era valorizado como é nos dias atuais.
A inauguração do Parque Ibirapuera, em 1954, gerou pressão sobre a UIPA para que funcionasse em outro local. O então prefeito de São Paulo, Figueiredo Ferraz, determinou que a área ocupada pela UIPA e pelo cemitério de animais fosse desativada, transferindo a associação para o bairro Canindé. Com essa mudança, mais de 100 túmulos de animais foram destruídos, muitos ossos se perderam e sobraram apenas as lápides dos cães Fiel e Pinguim. A perda do espaço naquela região marcou um período de declínio para a UIPA, que foi forçada a encerrar serviços gratuitos à população local.
Hoje, São Paulo conta com locais públicos e cemitérios privados para animais de estimação. Em meio a toda essa história, as lápides do cemitério de animais no Parque Ibirapuera permanecem como registros de um tempo passado, mantendo viva a memória dos muitos animais queridos que ali foram sepultados. A preservação desses túmulos se mostra particularmente impressionante quando consideramos a falta de conservação de muitos monumentos na cidade, fazendo da cruz e da pirâmide do cemitério de animais verdadeiros testemunhos da história de São Paulo.